Bom dia!
Nesta terça-feira
iluminada, desejo me aprofundar no Evangelho de hoje (Jo,11-18).
Maria
Madalena saiu de sua casa entristecida. O Mestre havia morrido. Se percebemos a
seriedade da sexta-feira Santa na Celebração, imaginemos a tensão que atuava
com ares de tristeza para os que conheceram o Deus Humanizado. E mais: para
quem havia sido seu amigo, sua amiga.
Ela
chega em um jardim diferente, não tão colorido quanto havia sido em outrora. Os
pássaros não cantam mais, nem o sol brilha da mesma forma. O sofrimento de
Maria Madalena, que muitas lágrimas derramava, é destino inevitável. Porém, os sofrimentos não
precisam ser definitivos. Podem ser pontes, locais de travessia. E o
Ressuscitado vem nos ensinar justamente isso.
A
mulher não tinha idéia onde estava o corpo de Cristo, e o sofrimento que -por
vezes- nos cega, a impediu de tirar conclusões acerca deste repentino sumiço. Eis
que sua tristeza é notada, primeiro por dois anjos que perguntam o por que da
choradeira. “Levaram meu Senhor e não sei
onde o colocaram.” (Jo 20,13). Atrás dela, entretanto, um Jardineiro tranqüilo
regava as flores, assobiando de forma com que parecia que nada o perturbava.
Sorria ao olhar minuciosamente cada detalhe da natureza criada. Parecia fazer
parte dela, a natureza nEle e Ele na natureza. Olhou para Madalena e fala: “Mulher, por que tanta tristeza? Por que
choras? O dia está tão lindo! Olhe este jardim. Perceba o cheiro das maçãs e a
suavidade do vento. O que aconteceu? A quem procuras?”. Tendo a certeza de
que era um jardineiro qualquer, ela suplicava: “Como posso perceber os aromas e detalhes de um jardim num dia como
esse? Me diz, se foste tu que levaste o corpo, onde o puseste, jardineiro? Eu o
buscarei se preciso for.”
“Nosso Senhor Ressuscitado tinha um guarda
roupa vasto: hora aparecia como forasteiro, hora como pescador, hora como
jardineiro!”
(Monsenhor
Bianchini)
Eis
então que o coração do Ressuscitado diz: “Maria!”. E ela passa a saber que mais
do que um simples jardineiro detalhista, a sua frente se encontrava o próprio
Cristo. Mas como ela o reconheceu? Que elementos podemos juntar neste
quebra-cabeça para compreender que ela não havia O reconhecido antes, e agora
sim? O que fez a diferença?
Notem
que escrevi: Eis então que o coração do Ressuscitado diz [...]. O segredo está
no seu coração. Mais do que o Cristo Humano, falava seu coração.
“Quem quiser por lógica nas decisões do
coração, está sendo louco, porque está pleiteando encontrar motivo para as
lágrimas sem história e para as alegrias injustificadas.”
(João
Mohana em “O Outro Caminho”)
Com
base nos Evangelhos, o que podemos encontrar neste coração? Um coração
saudável, que sabe ser amigo, que perdoa, ama e faz amar. Temos um bom exemplo
no versículo mais curto da Bíblia: “E
Jesus chorou” (Jo, 11-35). Seu coração também chorava a morte do amigo
Lázaro.
Um coração
que sabia se compadecer, afinal ninguém pediu para Ele restituir o filho único
à viúva. Apenas passava para um lado da cidade, e o cortejo de outro. Além de
falar, também enxergava com o coração. O Cristo simplesmente viu que era
necessário.
Entretanto
este sentimento que pulsava o mais puro amor não poderia ser confundido com
sentimentalismo, afinal embora amasse os apóstolos os corrigia quando achasse
necessário. Um coração equilibrado, portanto.
Para
os discípulos de Emaús, o Ressuscitado “Forasteiro” não se entrega de primeira:
prefere ir os tocando ao longo da caminhada. Prefere que o chamem quando está
se distanciando. Prefere que o percebam ao partir do pão.
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Podemos
ouvir o coração de Cristo, assim como Madalena, a partir da medida em que
ouçamos, leiamos, meditamos e vejamos também com o nosso coração.
“Jesus chama-nos muitas vezes pelo nosso nome,
no seu tom de voz inconfundível. Está muito perto de cada um. Que as circunstâncias externas – talvez as lágrimas, como
aconteceu com Maria Madalena, provocadas pela dor, pelo fracasso, pela
decepção, pelas penas, pelo desconsolo – não nos impeçam de ver Jesus que nos chama.”
(Francisco
Fernandes Carvajal em “Hablar con Dios”)
Uma
boa semana!
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