Oscar era um garoto incomum.
Filho único e nascido em berço de ouro, não tinha como ser comum. Desde pequeno
tudo o que pedia, ganhava! Desde os 5 anos, quando insistiu naquele carrinho
que vira na vitrine da loja, tudo o que queria, conseguia. Os pais, não
passavam muito tempo com ele, por causa do -sempre importante- trabalho. E
quando chegavam de alguma das viagens, traziam presentes e mais presentes. O
menino tinha tudo!
Se aproximava seu 19º
aniversário, e ele não sabia mais o que pedir! Os melhores videogames, já
tinha... Tinha um carro só para ele... Um quarto que era maior do que o próprio
apartamento de muitos de seus colegas.
O que Oscar não contava
para ninguém é a angústia que andava sentindo. Será que a vida se resumia a
isso? Será que seus pais eram felizes? “Vou
me formar na faculdade e ficar cada vez mais rico... Não entendo! Por que isso
me aflige?” pensava ele.
Acontece que, faltando
uma semana para o dia de seu aniversário, Oscar, -por acaso?- viu uma espécie
de “flyer” no mural do Facebook de uma amiga. “Neste Natal não se esqueça do
Aniversariante” “Serenatas de Natal Emaús - Participe!”. Resolveu ir
a fundo. Acessou os vídeos de antigas Serenatas no Youtube, e pensou: “Estranho! Um bando de bobos alegres
cantando pra gente que nunca viu na vida.”. Até que ouviu cantarem a
seguinte frase: “[...]Porque
o próprio Deus está aqui!”.
“O acaso não existe. Existe apenas a vontade
de Deus”
(Carlos Carreto)
“Essa eu não perco por nada! O próprio Deus
está por lá! Só o que me faltava... Vou dar uma olhada nesta serenata na
segunda-feira.” debochou o garoto, que havia nascido
numa família que não tinha tempo para gastar em Igreja alguma.
Seguindo as
coordenadas, chegou ao CAP e logo deparou com jovens, como ele. Mas, estranhamente,
sorridentes. Distribuindo letras, treinando músicas. Quando se deu por conta
estava usando uma touca verde! Queria ir embora daquilo, mas uma estranha força o
fazia ficar. Se sentia bem lá.
Nesta noite, visitou
com o grupo a Maternidade
Carmela Dutra. Quantos bebês! Quanta criança tão pequena! Viu a
emoção de uma mãe, com seu filho no colo, recém nascido, e isso o tocou.
Cada criança que ele
via, era uma pitada de ânimo em sua alma. Foi quando, após a primeira noite das
Serenatas, já em seu quarto, lembrou do flyer que vira na internet. Jesus
também tinha sido um bebê! Esse Deus que o pessoal entoava, fez-se Homem, e pela
sua humildade se fez, antes de tudo, um simples bebê.
“Mas,
como? Por que? Se eu tivesse o poder de um Deus mandaria e desmandaria. A troco
de que tamanha humildade?”. Ficou em silêncio. Oscar parou
para refletir sobre esse Amor. Sobre aquela imagem do menino Jesus na
manjedoura, tão indefeso quanto os pequeninos que vira na Maternidade. Qual a
medida do Amor de um Deus?
“Quem O procura, O encontra”
(Santo Agostinho)
Dia seguinte, “com a
pulga atrás da orelha”, resolveu encarar a segunda noite das Serenatas. Os
jovens de Emaús fariam as Serenatas no Hospital Regional. Que cansaço! Corredores e
corredores, quartos, gente, muita gente. Gente trabalhadora. Secretárias,
médicos, enfermeiros, auxiliares de limpeza. Gente com aspecto cansado.
Famílias que pouco se assemelhavam com a sua, famílias que passavam por uma
certa dor e se emocionavam com o inesperado gesto da mocidade que vinha
chamando a atenção de longe, não pela altura das vozes nem pelo som do violão:
mas pela caridade com aquela gente sofrida.
Essa gente agradecia. Às
vezes, nem precisavam palavras, bastava o sorriso ou a lágrima da mais pura
felicidade. Qual a última vez que Oscar parara pra agradecer? Agradecer o dom
da vida; agradecer às amizades; agradecer àquela moça que há tanto tempo
trabalhava pra ele em sua casa, -qual era mesmo o nome dela?- Nesta noite,
Oscar aprendeu um pouquinho sobre a caridade. O amor que nada pede em troca.
Não perderia, de forma
alguma, a terceira noite das Serenatas, na quarta-feira. Ao contrário da
primeira noite, Oscar já fazia amizades! Entraram de carro em uma espécie de
terreno baldio. Não sabia onde estava, nem por que estava ali. A casa ao lado
deste terreno possuía um campo de futebol e alguns meninos. Oscar estava na Casa Lar Emaús.
Cantou, dançou, se divertiu, mas ficou curioso. Do que se tratava? Descobriu
que, há anos, um grupo de jovens saíram de um retiro loucos pra mudar tudo!
Loucos pra serem mais Igreja no mundo! E resolveram, não sem dificuldades,
fundar uma casa que abrigasse meninos que precisassem de ajuda.
“Que
coisa! Resolveram doar do próprio tempo livre para fazer algo que parecia
loucura. Será que faço algo de produtivo com meu tempo livre?”
se auto-questionava Oscar. Com a Casa Lar e sua história, ele aprendeu a
importância da ação
social na vida de uma pessoa. Afinal, esta fé que eles cantavam nas
Serenatas não parecia ser justa quando designada somente para si.
“Maior
louco é Ele, que se fez Amor”
(São Josemaría Escrivá)
Mal conseguiu dormir!
Faltava a última noite! O que será que aprenderia? O que será que veria? Esse
Amor inefável e infinito que paira no ar é uma incógnita! Vem de tantas formas,
de tantos jeitos...
Chegando ao Asilo Irmão
Joaquim, Oscar viu
homens e mulheres com a vida transparecendo em suas faces: muito já viveram! Imaginou
quantas histórias cada um teria pra contar. Cada ser era único, cada um com
suas experiências, seus traumas, suas alegrias e tristezas. “Este asilo mais parece uma família. Todos
se ajudam e parecem querer viver mais! E eu, com meu ego, quantas vezes senti
vontade de jogar tudo pro alto, de desaparecer?”. Era o valor da união, da família, que Oscar
levava nesta quinta-feira.
Ao chegar em casa, porém, recordou que seu aniversário era no dia
seguinte! Nem lembrava... Quando o tempo é bom, as horas nem parecem que
passam, cada momento tem sua devida importância.
O velho e “difícil” dilema voltara: “O que pedir de presente?”
Foi quando teve a idéia! Horas depois, os pais de Oscar encontraram, em cima de sua
cama um bilhete: “Mãe, pai! Queria, antes
de tudo, agradecer pelo amor que vocês me deram durante estes 19 anos. Quero
que saibam que sou eternamente grato por ter quem se preocupe comigo. De
aniversário, quero que vocês conheçam um Amigo. Conheci ele há uns dias e quero
que todos passemos meu aniversário juntos amanhã, como uma família! Aprendi que
ele não liga muito pro que passou e nos ama muito! O nome dele é Jesus. Esse
Cara me ama tanto, mas tanto, que não creio haver amor maior. Quero um dia
inteiro com vocês em família! Podemos acordar cedo para vermos o nascer do sol,
depois tomar um café-da-manhã caprichado; em seguida, vamos à praia como íamos
quando eu era pequenininho, lembram? À tarde quero levar vocês para a Casa Lar
Emaús, podemos fazer doações, a criançada lá é muito divertida! E para encerrar
o dia, vamos direto para a Missa do Emaús, onde esse Amigo se faz Real através
da Eucaristia. E depois, podemos sair para jantar como há tempos não fazemos, o
que acham?”
Aos poucos, Oscar foi mudando sua vida e a vida dos que o cercam para
melhor, através de Jesus Cristo. Há cerca de 2012 anos, esse Meninão, esse Amigão, esse Cristo que é de
tudo um pouco, nascia. E todos os dias, se perseverarmos na fé, renasce em nossos corações!
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História dedicada às inesquecíveis Serenatas de Natal do Movimento de
Emaús de Florianópolis do ano de 2012. Obrigado a CADA UM que colaborou para
que isto tudo fosse possível.
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