Um certo Jalmir, numa
certa vez contou a história de um malabarista.
No momento, não tive
meios de anotar a historinha, mas pelo que recordo, era mais ou menos assim:
“Em uma cidadezinha de
interior, ao final da Santa Missa de domingo, sempre cheia de fiéis, o Pároco
foi guardando sua batina enquanto os coroinhas tinham o trabalho de ir fechando
a Igreja, aos poucos.
Quando todas as luzes
foram apagadas, porém, o coroinha notou algo que nunca tinha visto, e
imediatamente foi chamar o Pároco.
Quando este chegou ao
altar, lá estava um sujeito simples, humilde, com suas vestes e pele
envelhecidas pelo tempo. Enquanto chorava, visivelmente emocionado, o sujeito
fazia malabares em frente ao Altar.
‘-Que
falta de respeito! O que você pensa que está fazendo?’
disse o Pároco, enfurecido.
‘-Senhor.’
Respondia o emocionado malabarista de Deus, ‘Eu
acompanhei atentamente esta linda Missa! Mas não sei rezar. Também não consegui
acompanhar os cânticos. Na verdade, uma das únicas coisas que sei fazer bem é
fazer malabares. Estou apenas agradecendo o Senhor pela minha vida, da melhor
forma que posso.’
O Pároco se emocionou com
a humildade do sujeito e respeitou sua gratidão à Deus.”
Lembro bem que a
conclusão que o Frei Jalmir chegou foi: “Cada
um tem uma forma de agradecer ao Senhor”. Porém, hoje quero pedir que
lembrem, especialmente, das lágrimas deste malabarista.
“Bem-aventurados os que choram, porque eles
serão consolados”
(Mt
5:4)
Quantas vezes já não
choramos, amigos? Na verdade, já nascemos chorando! Na infância aquele choro
inocente devido a separação da criança e de sua mãe, por algum motivo, mostra a
dependência que a criança tem. Ao longo do tempo, diversas e diferentes lágrimas.
A seriedade que a vida vem nos dando, dia-a-dia, faz-nos pensarmos, diversas
vezes: “Como era boa aquela infância! Onde as tristezas eram tão bobinhas...”
No Evangelho, sempre
tocante, de João, percebemos um dos mais fantásticos versículos da Bíblia: “E Jesus chorou...” (Jo 11:35). Tão
humano! Tão gracioso... Tão divino.
Jesus, na plenitude de
sua humanidade, sentiu o que sentimos quando perdemos alguém próximo e somos
pegos de surpresa: a profunda tristeza. Jesus chorou, lamentou a morte do amigo
Lázaro, que já estava morto fazia quatro dias.
"Jesus nos ensinou que homem chora, sim!
E chora porque é homem! E somente um homem na plenitude máxima de sua condição
é capaz de comover-se com a dor de um filho que sofre, com sua esposa que passa
por tribulações, com um amigo de longa data ceifado inesperadamente da
vida."
(Vilmar
Dal-Bó)
O Filho de Deus nos apresentou,
portanto, as lágrimas
de sofrimento.
Como tudo o que lemos nos
Evangelhos: isto tudo podia ficar por aí! Jesus podia ter fingido que não ouviu
o cego Bartimeu, seria o mais fácil! Jesus poderia ter perdido a paciência com
a preconceituosa Samaritana naquela tarde quente, seria o mais conveniente. Ele
podia ter se indignado com os dez leprosos curados, onde apenas um voltou para
agradecer. Mas não. Nosso Cristo não é o Deus do sofrimento, do rancor, do
temor-sem-amor.
Como diria o Salmo 30: “Ao anoitecer pode vir o choro, mas a
alegria vem pela manhã.”. Ou seja, Jesus, pelo amor que tinha a seu grande
amigo Lázaro, pela amizade, confiança, unidade entre eles, o ressuscitou. As
lágrimas de sofrimento se transformaram, com absoluta certeza, em comoção
geral.
Aí entram aquelas
lágrimas que saem como sem querer. As lágrimas de quem muito espera no Senhor:
as lágrimas
de emoção. Amigos de Emaús, não falo de uma emoção qualquer, e sim
uma emoção que nossa fé, por vezes, causa.
"Quem vive na intimidade de Deus não se
perturba com a voz de Deus, interior ou exterior. Emociona-se."
(Pe.
João Mohana)
Quanta emoção já não
passamos por Ele, hein? Aquela conversão especial, aquela Eucaristia recebida
em tempos difíceis, aquela sincera Confissão durante as turbulências, aquele
terço que fez todo um sentido e achou respostas para as dúvidas de um tempo inconveniente.
Santo Agostinho, o
Doutor da Igreja, foi descrente durante muitos anos de sua vida. Mas pela
oração de sua mãe, Santa Mônica, se converteu. Certa vez, escreveu Agostinho: “Quanto chorei ouvindo vossos hinos,
vossos cânticos, os acentos suaves que ecoavam em Vossa Igreja! Que emoção me
causavam! Fluíam em meu ouvido, destilando a verdade em meu coração...”.
São lágrimas de emoção, lágrimas que entendem que nosso Deus está na palma de
nossas mãos. Benditas sejam estas lágrimas, que vem lavar nossos medos! São
lágrimas, acima de tudo, de uma intocável certeza: a presença de Deus conosco.
Mas amigos, as lágrimas
mais puras às vezes são as que admitem o erro, as que molham nossa face a fim
de que renovem o homem velho e pecador: as lágrimas de
arrependimento.
Simão Pedro, o
apóstolo, passou dias cabisbaixo após a morte de Jesus. Além de te-lo negado três
vezes, não teve sequer a coragem de acompanhar a crucificação. Não via mais
motivo para sorrisos, felicidade, alegria. O apóstolo tão falador causava
estranheza por sua quietude conquistada, pelo erro. Ninguém mais o reconhecia.
Obviamente, todos os apóstolos estavam tristes e inconsoláveis, mas Pedro,
irmãos de Emaús, superava os outros.
Jesus, vindo ao seu encontro
cerca de três anos antes, o chamava para deixar suas redes, deixar sua
profissão e se tornar pescador de homens com ele. Já não havia mais sentido...
Portanto, pela fome, necessidade básica do ser humano, e por certa desistência,
Pedro se encontrou pescando novamente, peixes. Jesus seria como uma brisa que
passou.
Até que Jesus chega,
como um forasteiro na praia (Monsenhor Bianchini reforçava que Cristo tinha um
guarda roupa extenso, afinal, após a ressurreição apareceu como jardineiro,
forasteiro, estranho...) e manda irem pescar mais à direita. E a pesca
milagrosa tem resultado, como bem sabemos.
Pedro é perguntado: “Tu
me amas?” “Tu me amas?” “Tu me amas?”. Enquanto as lágrimas caíam, Pedro dizia
que sim, que não existe dúvidas nisto! Apesar de pecador, o amava e sentia a
falta dele -como sentia...-. Ó santo arrependimento, que deixa o egocentrismo
de lado para se entregar totalmente ao que importa.
Tentei concluir este
texto de diversas formas, mas não achei conclusão melhor que a do distante
amigo Vilmar, em seu texto intitulado: “Meninos Não Choram - Será?” (link: http://ow.ly/keGBF)
“Acredito
que o mais vergonhoso na biografia de um homem não é chorar, mas sim, recordar
o nome das inúmeras pessoas que ele fez
chorarem por sua insensibilidade e dureza de coração. O honroso para a
biografia de um homem não está nas vezes em que sorriu, mas nas vezes em que fez alguém sorrir.”
Tentemos -ao
máximo- fazer o próximo sorrir, neste fim-de-semana!
Forte abraço!
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