O Levantar-se de Zaqueu

Antes de nos aprofundarmos em uma linda passagem da Bíblia, quero que nos baseemos na definição de consciência moral, do Compêndido:

“Consciência moral é um juízo da razão que, no momento oportuno, impõe o homem a fazer o bem e evitar o mal”

(Compêndido do Catecismo da Igreja Católica)

A consciência também tem a ver com o conhecer-se a si mesmo. Como poder tomar a consciência moral sem se conhecer? Como aperfeiçoar essa consciência se não conhecemos a nossa riqueza humana?

Hoje a reflexão se aprofunda no baixinho Zaqueu (Lc 19:1-10). A Bíblia, segundo São Lucas, conta que era o chefe dos publicanos.

Para entendermos melhor, o publicano era uma espécie de coletor de impostos a favor do império romano. Ou seja, para os judeus era uma espécie de traidor! Tirava dinheiro do próprio povo para dar aos romanos, e pior: sempre dava um jeitinho de pegar “um pouquinho a mais” dos cidadãos justos que pagavam os impostos, para por no próprio bolso!

Acontece que diante de inúmeros boatos, Zaqueu toma o conhecimento de que Jesus estaria em sua cidade. Como seria o tão falado Jesus de Nazaré? Baixinho como ele? Com uma cabeleira grande? E sua voz, como soava? Suas vestes? Como esse Homem chegaria em sua cidade? 

Precisava conferir! Talvez mais por curiosidade do que por outra coisa, não se sabe!

Quando chega na entrada da cidade, o inesperado: muitas e muitas pessoas aguardando o Nazareno, mais gente do que Zaqueu esperava. Não sabia nem por onde ir, nem por onde começar. Até pensou em pedir espaço para um ou pra outro já que não atrapalharia ninguém devido sua baixa estatura, mas logo desiste: “Sou visto como um vilão, melhor não depender de ninguém. Preciso arrumar um meio de vê-lo!”.

Até que ele olha uma árvore e -com dificuldades- consegue subir. Espera um pouquinho e lá vem Ele, o Nazareno! Muita gente em volta, uma gritaria, uma correria, até que Cristo passa e olha pra cima.

Imaginem o coração de Zaqueu, seu nervosismo: “Será que Ele olha pra mim ou está admirando a árvore?”. Até que Jesus fala: “Zaqueu, desce daí porque vou me hospedar em tua casa” (Lc 19,5).

“Quem falou meu nome pra Ele? Deve ter sido aquele fulano que cobrei a mais semana passada. Esse Homem vai me condenar!” deve ter pensado Zaqueu. E foi correndo para preparar sua casa para o Senhor.

Pouco tempo depois, entra Jesus em sua casa.

Amigos, reparem que esse homem sabia que Jesus existia. Sabia também que era o Filho de Deus pois ouvia falar. E mesmo assim pensava: “O que importa? Não O conheço pessoalmente, portanto não sinto culpa pelo que faço!”. Mas surpreendentemente naquele dia o Amor o visitava pessoalmente.

É aí que entra um detalhe do Evangelho que, muitas vezes, passa despercebido:

“Zaqueu, levantando-se disse ao Senhor: ‘Senhor, a metade dos meus bens darei aos pobres, e se prejudiquei alguém, vou devolver quatro vezes mais’”

(Lc 19:8)

Zaqueu, pessoal, levantou-se! Segundo outras traduções da Bíblia: “Zaqueu pôs-se de pé” e “Zaqueu, de pé diante do Senhor”.

Quando estamos nervosos, perdemos a cabeça ou precisamos conversar de forma urgente com alguma pessoa não o fazemos sentados, relaxados, de forma tranqüila e sim, na maioria das vezes, de pé! Zaqueu, antes sentado durante a ceia foi atacado por sua consciência moral. Levantou-se e confessou de forma rápida e atrapalhada seus erros para Cristo. Não sossegaria até falar. O covarde que roubava do povo finalmente tomava coragem. Valeria a pena.

“Quando escuta a consciência moral, o homem ouve a voz de Deus que lhe fala”

(Compêndido do Catecismo da Igreja Católica)

Conhecemos o Cristo Misericordioso, o Cristo que não vê passado, o Cristo que nos ama. E Dele não poderíamos esperar outra resposta para Zaqueu: “Hoje aconteceu a salvação para esta casa [...]” (Lc 19:9)

Cristo, diariamente, deseja estar conosco em nossas casas, em nossos corações. Não podemos omitir nossos erros e culpas que nossa consciência nos flagra, pois Ele tudo conhece.

Que nessa semana possamos abrir o coração para o Cristo Misericordioso que tanto nos ama!