sábado, 4 de maio de 2013

A Vida é Tua, Senhor!



“A vida é tua, Senhor”

Essa foi uma das últimas frases de Monsenhor Bianchini em vida, segundo o Pe.Pedro Koehler, que anotava atentamente suas últimas palavras no hospital de Caridade, em 26 de outubro de 2010.

Notem a simplicidade destas palavras: não foi preciso usar de sua doutrina, sua teologia, seu conhecimento. Não foi preciso narrar suas obras, contar tudo pr’Aquele que já sabe tudo. Não. Foi preciso apenas entregar sua vida, na leve partida.

Foi preciso entregar-se completamente.

“O melhor da vida é poder sofrer com Jesus e por Jesus.”
(Beata Maria Maravilhas de Jesus)

Muito esse senhor de olhos “azuis da cor do mar” pôde -mais uma vez- nos ensinar...
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Há cerca de dois mil e poucos anos atrás, o Nazareno caminhava rumo a uma cidade chamada Naim. De Cafarnaum, onde tinha feito a cura “à distância” do servo do centurião Romano, até a aldeia de Naim eram 38 quilômetros! Haja fôlego. Nosso Cristo, sempre humano, já sentia cansaço.

Atrás Dele vinham pessoas agraciadas por terem visto o seu poder... “Quem é Este doce Homem que nos faz sentir esperança?” perguntava um, entre os milhares que O seguiam.

Vinha gente de todo jeito, de todo lugar. Judeus, zelotes, publicanos, e até herodianos! Era como uma caravana, um mar de gente. Uma multidão que pode ser definida como a multidão da alegria. Imaginem poder ter visto o Jesus humano? Qual outra palavra define tamanho esplendor? A mais profunda alegria.

Chegando à aldeia de Naim, com os pés cansados, Jesus avistou um outro cortejo. Pelo jeito, algo não estava indo bem para o povo morador dessa humilde aldeia.

Uma mulher, que era viúva, havia perdido -também- seu filho.

Que dor, meu Deus! A comoção era geral. “Se existe um Deus, como pode permitir tamanho sofrimento?” perguntavam alguns. A viúva apenas chorava, pois palavra nenhuma consolaria aquele coração que, com certeza, não estava em paz. E essa multidão fúnebre, a multidão da tristeza, encontrou-se com a multidão de Cristo.

Quando as duas multidões se cruzam na porta da cidade, tensão.

“O que estes estrangeiros estão fazendo aqui? Por que o sorriso no rosto?” indagou um senhor que acompanhava a viúva. Um momento pra lá de estranho, até que, pouco a pouco, a multidão da alegria ia se solidarizando com a multidão que chorava todas as lágrimas do mundo. Respeito.

Nesta tarde, a morte encontrou Aquele que se declarou como Vida.

Todos já perderam alguma pessoa amada. Todos sentem saudades. Todos já sofreram por isto. Às vezes, o sofrimento de uns é maior do que o de outros, mas ao mesmo tempo inevitável. E o sofrimento leva a uma certa ansiedade. Tentamos quebrar a cabeça para entender certas coisas. Para Freud, a ansiedade é uma ameaça ao ego, e o ego representa a realidade, o ‘estar consciente’. A negação, para ele, é um sentimento muito comum na tribulação. Perdemos o sono, procuramos refúgio, queremos respostas!

Podemos relacionar o sentimento de perda de uma pessoa querida com o entendimento de Deus. Imaginem, amigos, irmos para a enorme biblioteca da UFSC para lermos todos os livros de lógica possíveis. E mais além, nos aprofundarmos na filosofia, para depois entraremos de cabeça no hebraico, grego e latim. E, só após todo este estudo, lermos tudo quanto é possível sobre a teologia: especulativa, sistemática, simbólica, ecumênica, kerigmática... Será que algum dia entenderemos completamente, ‘nua e cruamente’ as vontades, os desejos, as providências de Deus? E nas tribulações da vida, O entenderemos completamente?

“Agindo assim, tu te metes a criador”
(Santa Tereza de Lisieux)

Uma vez, um amigo contou que um Padre que viera palestrar no CAP, algo sobre Jesus Cristo, iniciou a palestra citando: “Me mandaram quatro anos para estudar em Roma. Pra que? Saí de lá mais confuso que entrei! Não quebrem a cabeça se não entenderem o Amor...”

Naquela tarde, a morte encontrou a Vida.

Irmãos de Emaús, a graça, neste Evangelho, entrou de uma forma diferente. Abrindo espaço. Calando o pranto dos que choravam, silenciando as risadas da pura felicidade dos que seguiam Jesus, e equilibrando ambas as multidões.

Deus, que também se faz graça, entrou no meio dessas pessoas e, através de um olhar, se solidarizou com a viúva. Parecia que, a cada passo, captava todas as tristezas dela, isso O movia.

Caminhou com passos firmes. Amigos, a divindade e a humanidade caminhavam juntas. A divindade de um Homem que teve compaixão pela viúva, e a humanidade de um Deus que O fez agir.

Jesus, naquele dia, agiu porque tinha que agir sem pensar duas vezes. Notem que Ele não falou: “Todos morrem. Se continuares chorando não crês em vida eterna.” Não. Nosso Deus é um Deus solidário. “Não chores...” disse Ele à viúva.

Ele não veio semear tristeza. Nem prometeu somente alegrias. A vida é feita de momentos. Nunca um dia é igual ao outro, nunca a vida é a mesma após um desses acontecimentos, por vezes, inesperados.

Foi aí que a viúva sentiu no seu coração um sopro de fé e a certeza de que com aquele Homem queria estar. É aquele momento em que o estranho Homem se torna Cristo, Filho de Deus, para nós. Deus só é capaz de nos consolar, quando sentimos, mesmo sem forças, que O queremos. Deus quer ouvir de nós.

“Ele te pede, tão somente, que confies em teu esforço e que ajas como se tudo dependesse de ti. Mas, mesmo assim, quer que O invoques, como se tudo dependesse d’Ele”
(Ludovic Giraud)

            Além do Monsenhor Bianchini, imagino com detalhes o que a viúva deve ter pensado: “A vida é tua Senhor. Meu filho é totalmente teu. Faz o que queres! Opera do jeito que quiseres. Sei que não te entendo, sei que perdi a fé que um dia tive no Senhor. Mas, tendo sua presença ao meu lado, tenho a certeza que quero te amar. As vidas são tuas, Senhor. Do meu falecido marido, que levaste há tempos atrás. Do meu filho que vês, e a minha também. Faz o que queres. Te amo com toda a medida do meu coração e sei que entendes meu sofrimento. Te amo e sinto falta de Ti. Te quero pois sei que Tu se compadece da minha turbulência. Te amo acima de tudo e pra mim, hoje a morte ganha novo significado. Nada tens que me dar, Senhor. Não tens que me compensar, de forma alguma. Te amo, pois sei que te seguindo posso, um dia, ter a graça de estar juntinho dos que partiram. Senhor, a vida é Tua!”

Imaginemos a felicidade de um Cristo, ao ouvir que no auge do sofrimento, ela o amou! Logo ela, a mulher que havia perdido seu marido e seu filho, os entregava completamente para Ele.

“Levanta-te, meu filho!”, ordenou Jesus. E o menino voltou à vida.

Amigos, quando entregamos totalmente nossa vida à Ele, nada temos que temer. Quando rezamos por aqueles que já foram, Jesus nos revigora para seguirmos em frente, tendo a certeza que um dia estaremos todos juntos.

Quando depararmos com estas perdas, que recorramos sempre Àquele que é Caminho, Verdade e, principalmente, Vida.

Senhor, a vida é tua!
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Dedicado àqueles que perderam pessoas amadas...



Thiago Lolato Silva, 2 anos de saudades.


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